Tuesday 14 July 2009

Apurado em sentir.

Entre dois mundos, entre dois extremos de um mesmo ser, encontra-se Cláudio Manuel da Costa. Persona única em diferentes aspectos, nasce em 1729 para marcar não somente sua época, mas toda a história da Literatura Brasileira.

Diferentemente dos outros árcades, desses que possuiam como primordial foco a Razão, Manuel da Costa traz, vertendo como fonte, uma poética rica em sentir, rica em exuberância, sem, de modo algum, vir a perder a beleza estética. Para tanto, ele é um dos principais usuários do soneto, forma estrutural poética marcante no Renascimento Português, e com ele traz também a fluidez de temas recorrentes ao íntimo humano, tais como: a vida, a morte e o amor.

Mas que valia há nas características listadas, sem, ao menos, uma prova textual? Possivelmente, nenhuma. Para isso, recorre-se a um de seus muitos sonetos: o oitavo.
"
Este é o rio, a montanha é esta,/estes os troncos, estes os rochedos;
" e nas entrelinhas o temor daquilo perdido que não mais voltará, daquele outro Cláudio que um dia vivera por entre "os mesmo arvoredos" naquela "mesma rústica floresta" e que não mais será. E é nessa primeira estrofe que desponta a tese, 'quem muda é o poeta (eu-lírico)', recheada de sentir, desse sofrer por não mais enquadrar-se nem ao mundo da "rústica floresta" nem ao mundo novo intelectual apresentado pela Corte.

Segue assim, no canto fluído da correnteza formada pelo fonema /s/, a tormenta dos obstáculos a surgir, dos troncos dos fonemas /r/ a supostamente atrapalhar o reconhecimento daquelas paisagens. "Tudo cheio de horror se manifesta," bem pondera o poeta, do amor por aquela terra que já destoa e não mais único amor, pois "Foi cena alegre, e urna é já funesta", ou seja, já morreu aquele primeiro eu-Cláudio, já ele abandonou suas raízes, deixando outras mais 'perfeitas' seus lugares tomarem.

Porém, Manuel da Costa, não é mais um homem que permite modificar-se sem contestar, não é, pois mais um de sua época que se deixaria abandonar a essência de seu ser. Cláudio é, verdadeiramente, "eterno retorno", é o homem que das mesmas águas mata a sede e que a cada novo suprir da necessidade - mesmo que apenas por lembrança - torna única e eterna a sensação, pois sabe que o sofrer para si será constância de crer na possibilidade do retorno.

Como bem ponderou: "Tudo me está a memória retratando;/Que da mesma saudade o infame ruído/Vem as mortas espécies despertando."

É, pois assim, e muito além disso, que Cláudio Manuel da Costa foi e será lido e, acima de tudo, sentido. Não foi esse apenas mais um Poeta, mas sim Homem-Poeta que nunca limitou-se ao rígido e estrutural, dando, portanto, vida a cada verso por si escrito.

1 comment:

Lucas Galvão said...

O grande problema é que Cláudo não marcou bem sua época...

Foi bem ignorado onde publicou. Mas é certamente o mais poeta dentre os pastores arcádia brasileira.